No Brasil, candidatos a cargos eletivos acreditam que o ambiente político ainda dificulta avanços para equidade. Mesmo com a Lei de Cotas, a percepção de 66% deles é de que os partidos políticos não fornecem condições iguais de concorrência entre homens e mulheres. Isso é o que mostra a pesquisa Mulheres na Política, realizada, este ano, pelo Instituto Datasenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, com candidatos e candidatas das eleições de 2018 e 2020.
O estudo indica ainda que 90% deles acreditam que investir na formação de lideranças femininas pode aumentar a representatividade das mulheres nessas posições. A pesquisa ouviu, por telefone, 2.850 candidatos às eleições municipais de 2020 (prefeito e vereadores), entre os dias 22 de março e 13 de abril de 2022.
Segundo o instituto, a pesquisa buscou investigar os motivos da baixa representatividade feminina em cargos eletivos no país. A Lei de Cotas, de 2009, determina que os partidos políticos tenham pelo menos 30% de candidaturas femininas, para concorrer às eleições.
Para idealizadora do projeto Elas no Poder, Bárbara Libório, não basta lançar as candidatas somente para cumprir as cotas. É preciso investir nas candidaturas femininas.
“Pode ser que ela seja só mais um nome na lista de candidaturas do partidos, mas que ela não receba os recursos para isso. Faz muito tempo que a gente vem falando sobre as candidaturas laranjas. Os partidos têm que cumprir uma cota de candidatura de gênero, mas isso não significa que eles investem nessa campanha para que elas de fato sejam eleitas.”
E isso se confirma na realidade: nas eleições de 2018, a porcentagem de candidaturas femininas para deputadas federais foi de 31%. Na prática, elas ocuparam somente 15% do total de vagas. No Senado: somente 13% das cadeiras foram ocupadas por mulheres.
Violência de gênero
A pesquisa ainda mostra que uma a cada três mulheres já foi discriminada no ambiente político, somente pelo fato de ser mulher.
Bárbara Libório conta que as violências sofridas pelas mulheres dentro da política são de gênero porque não estão ligadas à capacidade profissional ou política, mas sim ao corpo delas, à vida pessoal.
Para ela, as violências são de várias formas, inclusive as chamadas “candidaturas laranjas”, porque desmotivam as mulheres a seguirem a carreira política e interferem na democracia.
“Elas acabam não tendo recursos, não tendo investimento nessa campanha. Não adianta a gente cumprir uma cota de candidatura se a gente não tiver investimento porque o que a gente quer ver não é só mais mulheres candidatas, mas mais mulheres eleitas, mais mulheres ocupando esses postos e esses cargos para os quais elas estão se candidatando.”
Segundo o estudo, somando as eleições de 2018 e 2020, apenas 33% dos candidatos eram mulheres enquanto na população elas chegam a 52% entre os brasileiros com mais de 18 anos.