Em uma época de cortes progressivos na educação e no desenvolvimento da ciência no país com déficits de investimento, uma juventude luta para manter viva a chama da divulgação cientifica.
Aos 22 anos, Felipe Valeriote, de Saquarema, chamou para si essa responsabilidade em seu município e na Região dos Lagos, como um todo.
O futuro cientista já competiu, por três anos consecutivos, em um campeonato da NASA, o Space Apps. Uma delas, inclusive, lá nos Estados Unidos, em 2019.
Atualmente, ele se dedica a divulgar a ciência, com foco na astronomia, através das redes sociais. A página dele já passou de 5,6 mil curtidas no Facebook e a live que o jovem fez do eclipse lunar na madrugada do dia 16 de maio atingiu mais de 3 mil pessoas em sete países.
O interesse de Felipe no céu é praticamente intrínseco, segundo o próprio. Sem data certa, começou ainda na infância.
“Muitas pessoas dizem que desde os 3 anos eu ficava apontando para o céu, ficava falando do espaço, de Marte, sendo que eu não tinha nem conhecimento, era uma criança. Eu pegava livros, recortava nas revistinhas as fotos dos planetas”, contou Felipe.
“Parece que eu já nasci com isso, de verdade. Ao longo do tempo, eu fui elaborando e tal. Ficava assistindo séries de TV com meu pai, falando de espaço e tudo mais”, explicou.
A primeira competição da NASA foi em 2018. Felipe recebeu um convite do professor Marcelo Souza para ir a Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, para visitar a sede do Clube de Astronomia Louis Cruls.
“Eu participei desse encontro e fui líder de uma equipe para a gente poder ir para essa competição. Essa experiência de estar no Space Apps me acarretou muita bagagem para que, mais tarde, no ano seguinte, eu fosse competir nos Estados Unidos”, relatou.
O projeto do grupo de Felipe em 2018 consistia em um aplicativo que, usando dados de satélites meteorológicos, avisaria as pessoas que moram próximas de regiões onde tem muito incêndio se houvesse alguma ocorrência próxima a elas.
Com a classificação para o Mundial, Felipe e seu grupo tiveram que desenvolver um rover, que é o veículo de exploração espacial adaptado para andar em solos extraterrestres, como a Lua, Marte e asteroides.
“Nessa competição, a gente tem que desenvolver um veículo que seja resistente a todos esses terrenos. Na Nasa, a gente tem essa simulação”, disse.
O jovem afirmou que o grupo, com a supervisão do técnico Pedro Júnior, fez com que o rover se tornasse mais barato possível. O veículo foi feito com sucata de bicicleta, de moto e peças de carro.
Viver no interior, sem incentivo de políticas públicas é um dos empecilhos no caminho de jovens como Felipe.
“É muito complicado porque quando eu fui pra minha competição, quando eu participo, quando eu vou fazer minhas viagens, eu preciso pedir dinheiro para as pessoas nas ruas, vender brigadeiro, vender rifas, porque a gente não tem apoio”, lamentou.
“Minha cidade é conhecida como capital do surfe, mas, na verdade, não vai ser o surfe que vai salvar o planeta, vão ser os cientistas, né?”, alfinetou.
Felipe disse se sentir largado no seu ofício e apontou que precisa criar as oportunidades de trabalho que tem.
“Eu sou pioneiro, eu trouxe esse projeto para a Região dos Lagos. Tudo o que é relacionado em astronomia nessa região, é porque eu estou lutando por isso”, disse.
O que motiva Valeriote são as pessoas que acompanham seus projetos e o interesse da população por assuntos relacionados ao espaço.
“Quando a gente fala de espaço, quando a gente fala de astronomia, astronáutica, isso mexe com a reação das pessoas. Quando, por exemplo, tem um evento astronômico acontecendo no céu, eu coloco o telescópio para as pessoas verem na rua e aquela sensação das pessoas me move”, pontuou.
“Isso faz com que eu puxe cada vez mais conhecimento para poder promover, trazer mais para as pessoas. A astronomia é uma é uma área que ensina muita humildade, a gente vê que nós não somos absolutamente nada em comparação esse universo inteiro e temos muita coisa para descobrir”, analisou.
Do lado das pessoas que o apoiaram em sua jornada, Felipe contou ao Portal Costa do Sol o que espera do futuro.
“A ciência vai avançar muito, tem avançado demais. Cada vez mais, a gente tem que ser atualizar do máximo de coisas possíveis. O mundo está em transformação, nós estamos vivendo a era da informação”, disse.
“Eu me vejo daqui 10 anos estudando. Ser cientista não é fácil. Não é só fazer um cursinho ali na faculdade e se formar. Eu me vejo estudando muito, me dedicando muito, fazendo muitos projetos, me vejo na Nasa, inclusive, com um grande público me acompanhando”, finalizou o divulgador científico.
Para Felipe, que tanto sonha em ver e participar dos avanços da ciência, nem o céu é limite.
@astro_felipe
@mapeandogalaxias
Por Luiz Felipe Rodrigues, estagiário sob supervisão de Renata Castanho