O ex-surfista duas vezes campeão da divisão de acesso do Circuito Mundial de Surfe, Teco Padaratz, presidente da Confederação Brasileira (CBSurf), concedeu entrevista ao Portal Costa do Sol para falar sobre os rumos da organização.
Teco avaliou o recente SSXP Saquarema Pro – realizado no começo do mês -, comentou as mudanças feitas desde que assumiu a presidência da CBSurf e esmiuçou planos para as próximas competições da confederação.
Portal Costa do Sol: Qual a avaliação que a gestão da CBSurf faz do recente SSXP Saquarema Pro?
Teco Padaratz: A avaliação que a CBSurf faz sobre essa etapa do circuito da primeira divisão em Saquarema, o Super Surf [Experience], foi a melhor possível. Eu acho que, ali, a gente conquistou um modelo de campeonato com uma estrutura mínima, né? Mas extremamente confortável e prática para o trabalho e, também, assim em um local que fez muito efeito, porque era no Centro da cidade de Saquarema, ali da Praia da Vila, tinha bastante gente da comunidade local e esse era nosso intuito: voltar a promover o surfe nas comunidades locais dos lugares onde a gente parar com o nosso campeonato. E a organização do campeonato estava de parabéns, eles fizeram tudo redondinho. O produtor Evandro Abreu é um cara muito experiente na estrutura de campeonato e entregou um campeonato nota 10. Muito satisfeito com essa etapa.
PCdS: A Praia da Vila não tem uma tradição em competições da modalidade. Como a etapa da competição foi parar lá e qual o balanço que se faz da experiência nessa praia nova?
TP: Bom, a princípio, a escolha da Praia da Vila surgiu mesmo por causa da desconstrução do evento da WSL, que demora 30 dias para desmontar e retirar da praia [de Itaúna] para a gente poder conseguir montar nossa estrutura no mesmo local. Isso se tornava inviável, uma vez que as etapas eram muito próximas, né? Suas datas. Então, a gente resolveu abraçar a ideia de ir para a Praia da Vila. A gente sabe que dá altas ondas lá também, mesmo não sendo tão constante. A gente tinha visto que havia uma boa constância de ondulações, o fundo estava bom no período. Resolvemos confirmar a etapa e foi uma benção, né? Porque a gente pegou um público local que adora campeonato de surfe, que estava acompanhando tudo que tava acontecendo e tivemos a grande vitória do local da praia e morador da Praia da Vila, o Lucas Chumbo, que fez uma grande festa no campeonato. Eu acho que isso elevou ainda mais o nível e o prestígio desse campeonato, sendo em Saquarema e na praia da Vila. Então, eu acho que essa escolha da Praia da Vila foi uma série de motivos que nos levou a isso, mas acabou nos levando ao tiro certeiro de pegar uma boa ondulação, com fundo bom de areia, com ondas bem próximas da praia e com a galera simplesmente dando um show de surfe.
PCdS: Quais são os desafios para criar torneios esportivos de surfe no Brasil?
TP: Os desafios para assim realizar campeonatos no Brasil, eu acho que tem a ver com a logística. É um país muito grande, são muitas categorias e a gente tem que entregar, praticamente, um campeonato por semana em algum lugar do Brasil. A nossa equipe de produção, principalmente, sofre muito com isso e tem que se equipar muito e ser muito ágil para poder entregar tamanha quantidade de campeonatos. O lado comercial também, porque ele tem que buscar fontes para viabilizar todos esses campeonatos. Existe um trabalho em equipe muito grande e muito intenso, praticamente, o ano inteiro sem folga, no qual todo mundo trabalha e corre atrás de fazer a confederação crescer cada vez mais. Eu acho que esses são os maiores desafios: manter a equipe unida e acreditando que tudo isso vai dar certo, como já vem dando até agora.
PCdS: O senhor recém-assumiu a presidência da CBSurf. Quais as mudanças que o senhor tem buscado trazer e o que foi mantido?
TP: Eu, realmente, assumi a CBSurf faz alguns meses e algumas mudanças sensíveis já houveram na gestão. A criação do comitê técnico, do comitê de ética, do conselho administrativo, do conselho consultivo, do conselho fiscal, tudo de acordo com o estatuto da confederação. São mudanças que não aparecem muito ao público, mas que regularizam a confederação da maneira que está escrito no estatuto. Outra coisa foi um envolvimento integral das federações na criação dos calendários e na produção desses eventos a nível local e uma relação de harmonia com as federações, onde, pela primeira vez na história, elas estão ganhando 80% das inscrições dos campeonatos e abraçaram a causa de resolver e colocar, inclusive, essa verba à disposição do campeonato para que ele rolasse da melhor forma possível. E, assim, a atenção principal aos atletas, né? Eu acho que essa é a principal mudança que tá acontecendo na CBSurf, o fato de a gente estar defendendo o atleta acima de todas as coisas, porque ele que é o embrião do nosso esporte, ele que faz isso tudo acontecer. É através dele, através da formação dos ídolos que a gente sabe que a confederação e o esporte vai se promover no país. Então, pela primeira vez, eu acho que o atleta está entrando em primeiro plano em todas as questões. A gente está também criando uma vice-presidência para o surf feminino, que possa pensar exclusivamente nessas questões e na promoção e crescimento dessa classe que tem um potencial incrível pelo país, mas que hoje se encontra numa situação muito minguada, vamos dizer assim. Tem muitas surfistas pelo país, mas poucas competidoras. Então, é um projeto que a gente está criando para poder dar essa atenção especial ao surfe feminino através dessa vice-presidência. Vai ser um legado que a gente vai deixar para as próximas gestões da CBSurf: uma estrutura onde terá um ou uma presidente com dois vices, sendo um exclusivamente masculino e outra exclusivamente do surfe feminino. Eu acho que são as principais mudanças que estão acontecendo e, sobretudo, quando a gente fala dos atletas. Você pode ver que a premiação é recorde. Esse ano, foi para R$275 mil, ano que vem a gente quer elevar isso bastante. A gente vai vir com o lançamento de um novo número de premiação, bem maior, mas sempre igualitário entre masculino e feminino. Tem muita coisa legal vindo por aí na CBSurf.
PCdS: Quais os próximos passos da CBSurf?
TP: Os próximos passos da CBSurf é, realmente, entregar um campeonato digno esse ano, com seis etapas da primeira divisão, mas várias etapas da Taça Brasil, que é a nossa segunda divisão, entregar o primeiro campeonato nacional de surf adaptado e o primeiro campeonato nacional de ondas grandes. [Além de] entregar etapas da categoria Master, já estamos entregando um circuito de longboard stand up vasto pelo Brasil. Enfim, esses são os nossos objetivos para esse ano. [Para] Ano que vem, já estamos trabalhando na venda dos patrocínios, na regulamentação da confederação, segundo as iniciativas do governo federal e dos estaduais e municipais. A nossa frente é, eu acho que, bem mais do que harmônica, sinérgica com o COB, que nos orienta muito no caminho de tornar o surfe cada vez mais brilhante, no sentido olímpico e Panamericano. A gente tem uma atenção muito forte ali junto com o COB e esses são os planos para o ano que vem: promover a confederação e colocá-la no nível que ela merece, como o surfe, né? Representando o surfe no Brasil, afinal, o surfe disputa como um dos maiores esportes do país e a gente tem que tratá-lo dessa forma.
*por Luiz Felipe Rodrigues, estagiário sob supervisão de Renata Castanho.