Ramon Mello, escritor e poeta respeitado, diz que a poesia é a sua forma de permanecer vivo

Nascido em Araruama com formação em Artes Dramáticas e Jornalismo, além de Mestrado em Letras, Ramon Nunes Mello, 37 anos, é um desses talentos que dão muito orgulho à cidade. Araruama tem produzido talentos incríveis que alçam voo e aterrissam no grande eixo Rio X São Paulo.

Poeta, escritor, yoguin nômade e ativista dos direitos humanos. Autor dos livros “Vinis mofados” (Língua Geral, 2009), “Poemas tirados de notícias de jornal” (Móbile, 2010/2011), “Há um mar no fundo de cada sonho” (Verso Brasil, 2016) e “A menina que queria ser árvore” (Quase oito, 2018). Organizou “Tente entender o que tente dizer: poesia + hiv / aids” (Bazar do Tempo, 2018) e “Ney Matogrosso, Vira-Lata de Raça – memórias” (Tordesilhas, 2018), Ramon Mello é muito respeitado no meio.

A pandemia trouxe Ramon de volta à terrinha, Araruama. Além de ser um grande poeta tem uma sensibilidade aguçada para outras artes. Ele é formado em Yoga e Meditação e atualmente dá aulas online, além de suas criações literárias e poéticas.

O seu interesse pela poesia chegou bem cedo, nos bancos escolares. “Meu primeiro deslumbramento poético foi em Araruama, ao ouvir a professora de Português e Literatura, Norma Perrut, recitando os versos do poema ‘A procura da poesia’, de Carlos Drummond de Andrade:

“Não faças versos sobre acontecimentos. / Não há criação nem morte perante a poesia. / Diante dela, a vida é um sol estático, / não aquece nem ilumina. [...] Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. / Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. / Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio. ”

Nesta época, a poesia estava somente ligada à vivência cotidiana: nas pescarias em Praia Seca com meu avô e meu pai, ao ouvir em looping as músicas de Caetano e Renato Russo numa fita K7; ou quando assistia às apresentações de teatro do grupo Gene Insanno ou da Suzana Pequeno e Cia. no Teatro Municipal de minha cidade.

Ramon Mello
  • A poesia se manifesta em diversas áreas, como música, literatura, fotografia. O que ela representa pra você em especial?

A poesia está em todas as áreas de minha vida, até mesmo em meu ativismo em prol dos direitos humanos, principalmente na defesa da dignidade das pessoas que vivem com hiv/aids. Acredito nos versos que escrevi: A linguagem / o verdadeiro / vírus. Poesia é, sobretudo, liberdade. Poesia é minha forma de lutar, de permanecer vivo.

Ramon descobriu o diagnóstico positivo para HIV em 2012 e desde 2015 ele vem falando sobre o assunto publicamente. Nesses 30 anos de epidemia de AIDS, 60 milhões de pessoas já foram infectadas em todo o mundo, mas houve progressos consideráveis, como a descoberta da origem da doença, compreensão dos mecanismos do vírus, e desenvolvimento de tratamentos mais simplificados.

Acredito que a linguagem é o verdadeiro vírus, a forma como nos expressamos de forma escrita ou falada colabora para a ressignificação do que entendemos sobre o hiv/aids. Não acredito que a poesia está em função de nada, muito menos de uma causa tão complexa como militância de hiv/aids. Entretanto, como dizia o poeta Roberto Piva, “a poesia pode não acabar com a guerra, mas, ao menos, evita que as pessoas deixem de sonhar”.

Ramon Mello

Para Ramon Mello os poetas de sua preferência são os seus contemporâneos: “Difícil citar somente um ou outro. Tornam-se meus preferidos aqueles que abrem, com seus versos, um maior sentido de liberdade no leitor”.

  •    Quais foram as suas primeiras leituras?

Minhas leituras foram livros infantis e infanto-juvenis, de autores como Sylvia Ortof e Pedro Bandeira. Mas foi mergulhando nos livros da Biblioteca Procópio Ferreira, na Escola de Teatro Martins Penna, que reconheci aquele encantamento das primeiras leituras ao encontrar Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Ariano Suassuna, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Manuel Bandeira…

“Leia. Leia tudo que vier pela frente: livros de poesia, biografias, livros de contos, romances, bulas de remédios, letras de música. E, em paralelo, vai rabiscando suas histórias”

  • Como é o processo na busca de recursos e meios para a publicação de um livro?

Uma das formas tradicionais, e mais difícil, é tentar ser publicado pela editora e ela te fornecer um percentual das vendas e/ou um adiantamento. Mas penso que as formas alternativas, como um financiamento coletivo ou vendas antecipadas são interessantes – principalmente para quem está iniciando.

  •    E a relação da sua poesia com Araruama? Ela te inspirou de alguma forma?

Estou resgatando minha relação com a cidade, desde que retornei um pouco antes da pandemia. Araruama me inspira com a presença do mar, presente no meu imaginário, consequentemente em minha poesia. Meu último livro chama-se ‘Há um mar no fundo de cada sonho’.

Ramon escreveu o livro de memórias “Ney Matogrosso – Vira-Lata de Raça” (Tordesilhas, 2018), junto com Ney, a partir do desejo dele de rever sua história.

Não se trata de biografia, mas “biografemas”, são fragmentos relevantes da vida relembrados pelo próprio artista. Foi minha forma de honrar uma amizade e, de certa forma, homenagear o múltiplo artista que é Ney Matogrosso. Esse “vira-lata de raça” que, aos 80 anos, permanece como um farol, esbanjando criatividade e tesão de viver.

Ramon Mello

Projetos são sempre muitos para uma mente inquietante e lúcida como a de Ramon. “ Na literatura, estou no momento finalizando a organização da antologia de poemas de Adalgisa Nery e iniciando a organização da antologia de poemas de Rodrigo de Souza Leão. Além de trabalhar no meu novo livro de poemas.

@caderno_de_autoficcao

@espaco_silencio_yoga

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