Psicodelia, polêmica e autenticidade: Serguei

O ano era 1933 e nascia, no Rio de Janeiro, o filho único de um executivo com uma dona de casa. Anos mais tarde, esse mesmo rapaz deixaria seu nome marcado na cultura nacional como o mais longevo roqueiro do país. Era Sérgio Augusto Bustamante, o Serguei.

Foi em Saquarema que essa verdadeira lenda viveu por mais de 50 anos. Polêmico, autêntico e psicodélico, Serguei mantinha, com ajuda da Prefeitura, em sua casa, o museu “Templo do Rock”.

No Templo, recebia visitas e apresentava o local. Uma dessas visitantes foi a jornalista Cristina Frazão, que gravou lá uma matéria para um telejornal no aniversário de 80 anos de Serguei.

“Recebi a missão de dar os parabéns a esse ícone da cultura brasileira. Levamos o bolo. O mais engraçado é q assim que ele abriu a porta e viu o bolo e fechou a porta na minha cara”, divertiu-se Cris ao contar a história.

“Na verdade, ele foi prender os cães que estavam soltos no quintal. E aí, sim, ele abriu a porta. Perguntou se tava gravando, o cinegrafista Eduardo Bernabé falou que sim e ele abriu, aí começou a fazer a cena, pegou o bolo. Acho que foi ali mesmo que ele deu uma lambida no bolo bem devagar para o cinegra não perder o take”, relatou.

Logo na entrada do Templo do Rock, Serguei mostrou as bandeiras que ele tinha hasteadas no quintal e surpreendeu a jornalista quando começou a rodar igual as meninas que fazem pole dance.

“Eu ria, me diverti muito. Ele olhava para mim e dizia algo em torno de: ‘é disso q o povo gosta’”, contou Frazão.

A gravação durou cerca de 1h30 e, segundo ela, Serguei fez questão de mostrar cada detalhe do espaço.

“A casa era realmente um museu. Cheia de quinquilharia, recortes de jornais, LPs, bandeiras, camisas, quadros, fotos. Tinha toda a trajetória dele e de vários astros do rock, o que, consequentemente, ajuda a contar a história do rock”, pontuou Cris.

Sobre outros aspectos do ícone da cultura, Frazão contou à reportagem que Serguei já apresentava sinais de senilidade.

“[Ele] tremia muito a boca, tinha cacoetes, estava bastante magro. Ele usava uma peruca bem castigadinha. Eu perguntei e ele respondeu sobre morar sozinho e ele demonstrava que era por decisão dele”, afirmou.

“Naquela época já havia uma preocupação com a saúde dele, a questão financeira e a solidão. Mas deu pra ver que ele viveu intensamente, fez tudo o que queria. Era um ser livre, bem à frente do tempo dele, ultrapassou barreiras e fez história”, arrematou.

Anos mais tarde, em 2018, Esther Fontes, na época, estudante de publicidade de Saquarema, estava em um grupo que decidiu documentar um pouco mais da história de Serguei para uma disciplina da faculdade.

“Psicodélico! O pouco que conheci fez jus a esse termo que tanto atribuíram a ele e o próprio confirmava. Divertido, sem tabus, ele tinha uma loucura lúcida sensacional”, apontou a, hoje em dia, publicitária.

“São várias lembranças fortes, ter feito esse documentário proporcionou pra gente uma experiência única”, comentou.

Esther se recordou de um momento específico, quando Serguei mostrava a coleção de discos para o grupo.

“[Ele] colocou um álbum pra tocar, se não me engano era um álbum da Janis Joplin, e cantou muito. Ele se entregou valendo e cantava e a gente ali presenciando aquilo… Foi maneirissimo! Além do prazer que ele sentiu em contar as histórias vividas por ele para a gente, dava para sentir a emoção”, afirmou.

A publicitária contou que Serguei, no off, era igualzinho as filmagens, dizendo que “o que a gente vê nas entrevistas é exatamente como ele era por trás das câmeras e foi assim quando ele topou filmar com a gente”.

O grupo ainda conseguiu arrancar um segredo do ícone, que ganhou fama ao declarar que havia namorado com a cantora estadunidense Janis Joplin.

“Ele contou para a gente que a verdadeira paixão dele era o irmão da Janis Joplin e não ela. Todo mundo sabe que rolou um ‘romance’ entre o Serguei e a Janis, então ficamos surpresos quando ele confessou que sua paixão era o irmão”, disse Esther.

O documentário produzido pelo grupo da publicitária, “Serguei – O Inexplicável”, está disponível abaixo:

*Por Luiz Felipe Rodrigues, estagiário sob a supervisão de Renata Castanho

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