O temporal que caiu nesta terça-feira (15) em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, deixando mais de 70 mortos, foi muito mais intenso do que o ocorrido em janeiro de 2011.
Naquela ocasião, chuvas torrenciais causaram enchentes e deslizamentos de terra na região, afetando principalmente as cidades de Nova Friburgo e Teresópolis e causando a morte de 918 pessoas.
Petrópolis registrou ontem ao menos 229 ocorrências relacionadas a chuvas. Foram 189 deslizamentos de terras, e a Prefeitura decretou situação de crise.
De acordo com o professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em drenagem urbana Matheus Martins, a topografia da cidade é propícia a inundações e deslizamentos, já que fica em uma região de encostas e é cortada por rios, sendo o principal o Rio Piabanhas, afluente do Paraíba do Sul.
“Quando chove com mais intensidade, a água desce rápido das encostas, atinge o rio com velocidade, desce o rio com mais velocidade e, quando chega próximo ao centro de Petrópolis, a declividade do rio diminui um pouco e a cheia acaba transbordando para as margens. Isso acontece mais ou menos frequentemente em Petrópolis. Tanto é que, caminhando na avenida nocentro de Petrópolis, você vê que a maioria das lojas tem uma comporta que protege contra as cheias”, explicou.
Porém, de acordo com o especialista, a chuva foi muito mais intensa do que as registradas anteriormente pelos postos de monitoramento pluviométrico, tanto em volume como em velocidade.
“Fazendo uma comparação com 2011, o posto com o índice mais alto registrou quase 282 milímetros em oito horas. Ontem, o posto do Alto da Serra registrou 221 milímetros em quatro horas. Além disso, a intensidade da chuva, que é a velocidade com que a chuva bate no solo, foi muito maior. A maior intensidade registrada em Nova Friburgo em 2011 foi de 88 milímetros por hora, a de Petrópolis, ontem, no posto do Alto da Serra, chegou a quase 200 milímetros por hora, uma intensidade muito grande”, acrescentou.
Para Martins, a tragédia só não foi maior ontem em Petrópolis porque o solo estava relativamente seco, sem registro de chuvas nos dias anteriores, e o temporal se localizou perto do centro da cidade.
Em 2011, o temporal ocorreu após um longo período de chuvas, que já havia encharcado o solo em toda a região serrana, e se espalhou por vários municípios.
Segundo o professor, com isso, mesmo que a cidade tivesse feito obras de drenagem após 2011, não seria o suficiente para evitar estragos.
“É uma chuva muito fora do comum. Petrópolis pensou em algumas obras que poderiam diminuir um pouco a cheia máxima, mas aí ficou na questão conceitual para depois fazer uma avaliação econômica e política. Pensou-se em um desvio que passaria por baixo da terra, por trás da catedral, para tirar a água do centro mais rapidamente. Isso poderia melhorar um pouco. Mesmo assim, teria sido uma tragédia”, afirmou.
Martins ressaltou que a melhor maneira de a cidade se preparar para chuvas de tal intensidade é uma boa gestão do espaço urbano, para evitar a ocupação de encostas e margens de rios, e o aprimoramento do sistema de alertas da Defesa Civil.
Atualmente, o Sistema de Alertas e Alarmes de Petrópolis dispõe de 18 sirenes, instaladas em comunidades com áreas de risco.
A história da região serrana do estado do Rio é marcada por tragédias envolvendo temporais. Em 1988, após dias ininterruptos de chuva, 134 pessoas morreram em deslizamentos de terra e desabamentos ou levadas pelas águas da enchente em Petrópolis. Centenas de moradores ficaram desabrigados.
Em 2011, além dos 918 mortos, 30 mil pessoas ficaram desalojadas naquela que é considerada uma das maiores tragédias socioambientais do país. Em 2013, Petrópolis sofreu com chuvas intensas em março, que provocaram mais de 100 deslizamentos de terra e deixaram 30 pessoas mortas.
*com informações da Agência Brasil.