De acordo com um estudo da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), em 2019 o Brasil se tornou o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, com cerca de 1.5 milhões de procedimentos por ano. Em 2022, o Brasil segue sendo líder, ultrapassando os Estados Unidos e o México.
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) divulgam que o procedimento cirúrgico mais realizado no país é a lipoaspiração: mais de 200 mil cirurgias são feitas por ano. Já a intervenção não cirúrgica que lidera o ranking é a aplicação da toxina botulínica (Botox). Nessa busca pelo corpo perfeito, como o psicológico é afetado?
Michelle Cattem, 24 anos, relata que sempre teve problemas com peso e que na adolescência desenvolveu bulimia para se encaixar no estereótipo. “Tenho uma facilidade de engordar muito rápido. Parte da minha família tem o mesmo problema, e isso mexe muito com a minha autoestima”.
Ao idealizar o corpo perfeito, Michelle realizou alguns procedimentos estéticos para emagrecimento. Quando não obteve o resultado milagroso vendido pela mídia, se sentiu decepcionada. “Eu achava que os procedimentos estéticos sem atividade física e uma boa alimentação iriam trazer o corpo perfeito. Quando não aconteceu, fiquei frustrada!”
A pressão da mídia por corpos perfeitos e o padrão de beleza cultural enraizado na sociedade acarreta no crescimento da insatisfação corporal. Hoje, com a internet e as influenciadoras, esse meio se torna cada vez mais tóxico. “A mídia tem sim uma porcentagem nisso (cobrança pelo corpo perfeito). Porque as blogueiras são lindas! Corpos maravilhosos, quem não gostaria, ne?! Então acabamos ficando presas naquilo, desejando ter o mesmo corpo”, ressalta Michelle.
A psicóloga psicanalista Gisele Sant’Anna relata que a busca pelo padrão vem sendo um problema que afeta diversos pacientes, o que gera questões na autoestima e no amor próprio. “Fica cada vez pior porque a gente vem tendo mais ferramentas e mais acesso às pessoas pelas redes sociais. São ferramentas que trazem filtros e distorcem a imagem das pessoas, então a gente fica cada vez mais com uma fantasia do que seria estar encaixado”, explica.
Gisele ainda esclarece que hoje com as cirurgias plásticas, a mídia com uma beleza idealizada e diversos procedimentos estéticos sendo feitos, a tentativa é que, através destes, seja possível alcançar a beleza padrão. “A internet e toda essa contribuição vira um ciclo vicioso. Pessoas vão se aproveitando disso para expor esse ideal de beleza e convidar pessoas a fazerem mais procedimento. Então isso vai sendo reforçado de um jeito cada vez maior”.
É possível viver fora dos padrões e não se cobrar por isso!
Mesmo que esse padrão e busca incessante sejam esmagadores, existem várias saídas para que você não se submeta à essa pressão. Trabalhar a autoestima, principalmente na terapia, pode ajudar a reverter essa idealização de beleza. “Essa ideia de belo, bom e jovem está totalmente atrelado ao o que é ser amado, então a autoestima e o amor próprio estão entrando na fantasia de que pra eu ser amado eu preciso ser de tal maneira. O acompanhamento psicológico auxilia a gente a entender que não. A gente não precisa se encaixar em um quadradinho e um estereótipo”, finaliza Gisele.
Por Virgínia Carvalho, estagiária sob supervisão de Renata Castanho