A pouca idade nas instituições políticas constantemente é usada como demérito para agentes públicos. Há quem a associe com imaturidade e inexperiência, sobretudo, nos meios mais conservadores formados por políticos tradicionais.
Nesse ínterim, contudo, há quem projete furar a bolha e ressignificar esse conceito de juventude na política para oxigenar as discussões e trazer frescor ao debate.
O cabo-friense Pedro José Sá Ferreira Ramos é estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com apenas 23 anos, o campeão de debates já foi chefe de Gabinete do prefeito de Cabo Frio e agora é assessor do Núcleo de Ações Estratégicas da Rio Saúde, na capital.
Em entrevista ao Portal Costa do Sol, Pedro contou como lida sendo uma pessoa jovem em posição de destaque.
“Estou bem em paz com isso. Nunca deixei que desconsiderassem minhas opiniões pela minha idade. E não conquistei essas coisas por ser melhor que ninguém, mas por ter a oportunidade e me permitir expressar quem eu sou, o que penso e o que gosto. Minha bandeira política é que todo jovem deveria ter essas oportunidades”, apontou o jovem.
“O lado bom de não me sentir especial é não me cobrar ter sempre que alcançar posições mais altas. Quero que sejam oportunidades de aprender coisas diferentes, me desafiar e assim me conhecer melhor”, disse Pedro.
Apesar de curtir abraçar responsabilidades, Pedro afirmou que não abre mão de ‘viver de verdade’.
“Curtir festas, conhecer pessoas novas e lugares diferentes. A hipocrisia nos trouxe pra muitos buracos, mundo de hoje precisa ser feito de pessoas de verdade”, ponderou.
Neste contexto, o universitário analisou que o que torna as pessoas diferentes é a melhor contribuição que elas podem dar ao mundo.
“Ninguém nasce uma folha em branco, nascemos em contextos sociais criados por séculos e séculos de relações desiguais. É preciso garantir que ninguém seja escravo do ‘destino’ para que possam expressar sua subjetividade. Estudar o que gosta de estudar, trabalhar com o que curte fazer bem e ser o que é. Ninguém é bom fazendo o que não gosta, e ninguém é feliz sendo quem não é”, disse.
Campeão de debates a gerador de memes
Antenado com a cultura pop, em 2019, Pedro José viralizou nas redes sociais ao fazer um meme misturando pontos turísticos de Cabo Frio com imagens do clipe “Doin’ Time“, da cantora Lana Del Rey.
Questionamos a Pedro o que trouxe mais reconhecimento para ele: os campeonatos de debates ou o meme da Lana Del Rey?
“A Sociedade de Debates da UFRJ me trouxe experiências que dificilmente um jovem de 18, 19 anos teria. Mas preciso dizer que foi em parte uma continuidade do meu engajamento na igreja. Gosto do trabalho voluntário e de trabalhos coletivos”, contou Pedro.
“Com 19 anos, fui Campeão Fluminense de Debates, dei palestras sobre argumentação e oratória, viajei para a África do Sul pro Campeonato Mundial de Debates e organizei grandes eventos nas instituições mais prestigiadas do país (UFRJ, USP, UFF…)”, relatou.
“O Campeonato Internacional Digital em Língua Portuguesa foi o ponto alto: num campeonato com os maiores nomes do Brasil, Portugal e até EUA, além de campeão na categoria principal (em duplas) também fui o debatedor com a melhor pontuação individual. A partir daí que dei entrevistas e fiquei conhecido na política”, analisou José.
“Mas o que mais gosto é quando me reconhecem pelo meme da Lana Del Rey mesmo. Existe um charme em ser ‘subsubsubcelebridade digital’ no século XXI, e sempre vira um bom assunto pra quebrar o gelo em conversas de bar. Mesmo amigos que conheci na política, em ‘espaços sérios’, compartilharam o meme e não sabiam que fui eu quem fiz”, ponderou.
Caminhos com Zé
A notoriedade de Pedro José no meio político foi intensificada em 2020, quando se tornou uma espécie de fiel escudeiro do então candidato a prefeito de Cabo Frio, José Bonifácio (PDT), de 75 anos, à época.
Pedro caminhou ao lado do veterano, que tentava conseguir o terceiro mandato como prefeito da cidade. Após uma pré-campanha e campanha intensa, a eleição veio.
Pedro foi escalado para o Gabinete do prefeito, exercendo o cargo de subchefe. Levou menos de um ano para que ele se tornasse o chefe de Gabinete mais jovem da história da cidade.
“Zé é um amigo, mentor e referência muito importante. Não o conhecia antes do ciclo eleitoral. Durante a pré-campanha tivemos muitas oportunidades de conversar e vi que era um cara muito comprometido com projetos coletivos, com uma sensibilidade extraordinária pelo território e pela gente, forjadas por décadas de ‘rua, rua e rua'”, disse Pedro.
Apesar de ter deixado o governo de José Bonifácio e aceitado o convite para trabalhar na Empresa Pública de Saúde do Rio de Janeiro, na capital fluminense, Pedro não perdeu o respeito e admiração pelo prefeito cabo-friense.
“Também descobri que temos muitos hábitos em comum, gosto por filmes, música e livros, talvez a teimosia e necessidade de ser disruptivo. Acho que por isso nossa convivência deu tanto certo. Aceitar o convite pra ser chefe de Gabinete foi natural. Acho que ele simboliza um sentimento político e legado que vai impactar positivamente as pessoas pra sempre”, analisou.
Fora do trabalho e visão de futuro
Além da política e dos debates, Pedro é apaixonado por praia. Especialmente, de manhã cedinho, em Cabo Frio, quando está vazia e a maré baixa. É a melhor coisa do mundo para ele.
“Sou muito curioso. Gosto de descobrir músicas novas (pra mim pelo menos). Ultimamente fiquei muito empolgado com o documentário “O Canto Livre de Nara Leão”, e tenho escutado muito a fase dela no Show Opinião”, contou Pedro.
A diva pop do cabo-friense é a Marina Lima. Dos mais recentes, ele também escuta muito Duda Beat, BaianaSystem e MC Tha.
“Me trazem empatia e alteridade por realidades que não são a minha. Curto muito samba, como o Santo Samba, a Praia do Siqueira, a Pedra do Sal e coisas sem muita cerimônia. Ocupo boa parte do meu tempo livre repetindo os memes da Isabela Boscov, que, do meu ponto de vista pessoal, são uma obra-prima”, disse.
Para o futuro, Pedro afirmou que, para quem acredita que a política orientada por dados, aliada da ciência, é um instrumento importante pra garantir uma vida melhor pras pessoas, trabalhar com planejamento estratégico na saúde do Rio é uma oportunidade de ouro.
“Nunca consegui caminhar longe da política, simplesmente não é algo natural pra mim. Conheço muita gente nova que pensa parecido, que estuda e se dedica por acreditar que é esse o instrumento de transformação social na democracia. É com eles que eu quero somar, apoiar seus projetos”, afirmou.
“Darcy dizia ‘só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca’. Nossa geração precisa assumir a responsabilidade de reconstruir o país, sem deixar ninguém pra trás”, concluiu o jovem.
*Por Luiz Felipe Rodrigues, estagiário sob supervisão de Renata Castanho.
