O legado de Léo Neves

Na capital nacional do Surfe, Saquarema, poucos nomes ecoam tanto na memória da população quanto o de Leonardo Neves. Bicampeão do SuperSurf, campeonato brasileiro da modalidade, em 2002 e 2003, Léo também foi professor dedicado a compartilhar suas experiências para a nova geração de surfistas que se aproximava.

O campeão ainda foi tricampeão carioca e participou do circuito mundial do esporte, sendo um dos representantes brasileiros no WCT em 2007 e 2008.

Apesar de ser carioca, Léo abraçou e foi abraçado pela cidade da Região dos Lagos, onde chegou a ser homenageado pela Prefeitura, que inaugurou, em 2021, o Centro de Treinamento de Surf Léo Neves.

O CT, localizado em Itaúna e dedicado a atender gratuitamente atletas iniciantes, semiprofissionais e profissionais com idade entre 10 e 20 anos, tem por finalidade valorizar o talento dos jovens surfistas locais, possibilitando acesso a treinamento especializado capaz de desenvolver suas potencialidades.

Além de ter deixado seu nome como uma grande referência para o surfe em Saquarema e dado aulas para surfistas como João Chumbinho, Léo serviu como inspiração para outra promessa do esporte: o próprio filho, Valentin Neves.

“Meu pai fora d’água era uma pessoa incrível, todo mundo o amava, respeitava muito. Um cara humilde, com pé no chão sempre, mesmo tendo sido um dos melhores do mundo. Um exemplo de pessoa, de verdade”, disse Valentin ao Portal Costa do Sol.

Valetin explicou que o pai nunca exigiu que ele seguisse seus caminhos, mas que Leo tinha ficado muito feliz de vê-lo querer se tornar surfista profissional.

“Nunca foi uma obrigação eu surfar. Ele sempre me deixou com um leque aberto para eu decidir o que eu queria fazer. Quando eu fui para o surfe, treinar com ele, ele foi ficando mais feliz porque ia ter um parceiro de surfe. Foi irado”, declarou.

O apoio e o companheirismo de pai e filho motivaram ainda mais Valentin a buscar seguir os caminhos de Léo.

“Eu admirava tanto meu pai como surfista e como pessoa, que eu comecei a querer ser igual a ele. Fazendo o que eu amo e tal. Hoje em dia, sou apaixonado pelo surfe, é a profissão da minha vida e sei que meu pai está muito feliz e orgulhoso”, afirmou Valentin.

Em 2015, o filho de Léo se tornou o surfista mais jovem até então a participar do SuperSurf. À época, ele tinha apenas 13 anos.

“É emocionante ver o moleque na bateria, dá uma emoção diferente ver ele realizando o sonho de se tornar surfista profissional. Quando ele tiver 14 ou 15 anos, ele vai se sentir mais forte por ter competido aqui”, disse Léo na ocasião, em entrevista ao globoesporte.com.

Quem entrevistou Léo e Valentin foi o jornalista Gustavo Garcia, que contou ao Portal sua experiência com pai e filho.

“Conheci Léo Neves durante uma etapa do SuperSurf na Praia de Itaúna. Foi meu primeiro contato com uma prova presencial de surfe. Léo era um cara muito consagrado no surfe e estava competindo com o filho, que já parecia ser um garoto promissor. Havia uma comoção muito grande com a história deles”, disse Gustavo.

Léo Neves e o filho, Valentin Neves. Foto: Gustavo Garcia

No ano seguinte, com a realização das etapas do mundial de surfe em Saquarema, Gustavo passou a frequentar mais a cidade e constatou a importância que Léo tinha no município.

“Sempre que eu ia para as etapas do mundial, eu tinha o prazer de vê-lo. Às vezes, na parte recreativa também, surfando por lazer com o filho. Dava para ver que ele era um cara muito querido ali na região, figura muito importante para Saquarema e para a Região dos Lagos como um todo”. lembrou Garcia.

Apesar de ter tido uma vida que se encerrou precocemente, aos 40 anos, Léo, que faleceu durante uma prova de surfe em Saquarema, deixou como marca os atletas que treinou, a trajetória que percorreu e as memórias que foram vividas com ele. A simpatia, a gentileza e o empenho foram adjetivos registrados em seu legado.

“O legado está aí. Os atletas, principalmente, o carinho, o amor que ele passou para as pessoas e é isso. Deixou a alma do que realmente o surfe é: parceria, carinho, amor, treino, dedicação e muita vibe boa”, sintetizou Valentin.

Por Luiz Felipe Rodrigues, estagiário sob supervisão de Renata Castanho.

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