Novos arranjos de família: amor além do tradicional

Foto destaque: Internet

Em 17 de maio de 1990 a população LGBTQIA+ dava um passo importante contra a homofobia. Neste dia, a homossexualidade deixou de ser classificada como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir disso, a data é conhecida como o Dia Internacional Contra a Homofobia e marca 32 anos de lutas por conquistas e garantia de direitos, sendo um deles os novos arranjos familiares.

Em 2015, Alexya Salvador foi a primeira mulher trans a finalizar um processo de adoção no Brasil. Junto ao marido, Alexya adotou Gabriel, seu primeiro filho. No ano seguinte, adotou Ana Maria e 3 anos depois Dayse. As duas meninas também são trans. “Quando eu adotei me senti a mulher mais realizada do mundo, porque eu pude exercer meu direito à cidadania e em construir a minha família”, relata.

Alexya e seus filhos. Reprodução: Instagram

Ser a primeira travesti que adota no Brasil é um marco sinalizador de que esse sistema de preconceito enraizado na sociedade está sendo transformado, a passos lentos ainda, mas sendo transformado

Alexya Salvador

Hoje, sendo uma figura pública, Alexya enfatiza que a conquista da família dela abriu portas para mais adoções e deu mais visibilidade ao processo, principalmente para famílias transafetivas. “Foi um marco histórico enquanto Brasil e América Latina. Então eu fico muito feliz de contribuir de alguma forma e sinalizar para a sociedade brasileira que a família é o vínculo de pessoas que se unem pelo laço fundamental do afeto”, explica.

O nosso DNA é o DNA do afeto, do desejo de construir uma vida juntos, de partilhar os desafios da vida e de lutar pelos direitos. Principalmente nesse governo fascista que dia após dia retira os nossos direitos, nos silencia e nos invisibiliza

Alexya Salvador

Em janeiro deste ano, em entrevista a Jovem Pan News, o presidente Bolsonaro comemorou que as pautas chamadas por ele de “ideologia de gênero” estão responsáveis pelo ministro do STF André Mendonça, “terrivelmente evangélico”.

“Demos uma sorte. As pautas voltadas para ideologia de gênero caíram com André Mendonça. É uma tranquilidade para a família tradicional. E não é só a família tradicional, não. O pessoal que vai morar aí dois homens e duas mulheres, a maioria deles não quer essa promiscuidade toda. Eles querem é trabalhar, cuidar da vida deles e ser feliz entre quatro paredes. Não fica com esse ativismo: ‘Ah, todo mundo tem que aceitar isso daqui, botar na escola’”, afirma o presidente.

Amor de duas mães

Marcela Tiboni e Melanie Graille tiveram seus primeiros filhos em 2018, Iolanda e Bernardo, gêmeos. Para completar a família, as duas optaram pela reprodução assistida. O casal não teve nenhum problema ao registrar os filhos na certidão de nascimento, em contrapartida, elas estão tendo dificuldade no cadastro do cpf das crianças. “Quando eu entro nesse registro, eu caio em uma página dizendo que o meu nome não corresponde com o nome da mãe dos meus filhos. Então para o maior sistema de banco de dados do país, eu não sou mãe dos meus próprios filhos.

Marcela Tiboni, Melanie Graille e os filhos, Iolana e Bernardo

Marcela conta que já entrou no STF com uma ação coletiva e aguarda a votação. “Esse sistema precisa se tornar contemporâneo e fazer caber mais famílias”, completa.

Durante a gestação quem carregou as crianças na barriga foi Melanie, mas a amamentação foi compartilhada e Marcela amamentou os filhos logo após o parto. As duas mantiveram assim até as crianças completarem dois anos. “Foi um processo muito coletivo e colaborativo de nós duas, onde criou um vínculo de nós duas como casal e mãe muito forte”, revela Marcela.  

Outro casal que compartilha a dupla maternidade é Mariana Fernandes e Tatiane Lima, mães de Giovanna de três anos. Mariana conta que a experiência da gestação foi incrível, mas muito desafiadora também. “Tivemos algumas complicações durante a gestação, tivemos que tomar injeções de Clexane para a respiração da bebê. Além disso, tinha uma brida no útero em que nossa filha corria o risco de nascer sem braço ou perna (no final ela veio perfeita). Enfim, vivemos tudo juntas, isso foi muito bom!”, narra.

Mariana Fernandes, Tatiana Lima e a filinha Giovanna

Giovanna foi a sétima fertilização In Vitro. Hoje, Mariana e Tatiane se sentem completas com a chegada da filha, mas pensam em ter mais filhos e já estão na fila de adoção. Essas conquistas das famílias não tradicionais brasileiras marcam o orgulho e combate à homofobia dia após dia.

Por Virgínia Carvalho, estagiária sob supervisão de Renata Castanho.

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