Regina Righi, professora e artesã de Araruama, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, nos dedicou um tempo na sua rotina corrida para contar a história inspiradora da Cooperativa Nós da Trama, que há mais de 30 anos transforma vidas por meio do artesanato e da educação.


Ela iniciou sua trajetória na educação como professora de Matemática, área que seguiu com dedicação por muitos anos. No início dos anos 90 ela encontrou no artesanato, especialmente na tecelagem manual, uma nova forma de ensinar, incluir e transformar a vida de seus alunos.



A cooperativa surgiu quando a professora observou a falta de perspectiva de trabalho para suas alunas do ensino médio e começou a ensinar a tecelagem manual para elas. Com os anos o grupo ganhou força e se profissionalizou:
“Em 1997 oficializamos a criação da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais da Tecelagem Manual – Nós da Trama, transformando o conhecimento em ofício e representando uma alternativa de emancipação, geração e renda e um caminho profissional para elas,” destacou a professora.






Quem acompanhou essa história de perto foi a artesã Mirian Rodrigues, que foi uma das alunas que aprenderam a arte da tecelagem, na época com 16 anos apenas: “Hoje estou com 56 anos e sigo trabalhando com esse ofício que tanto amo”, explicou a artesã que hoje ensina a arte para as próximas gerações, dentro do próprio projeto.



O Nós da Trama se consolidou como um espaço de inclusão social, empoderamento feminino e produção artesanal sustentável em Araruama. Segundo os cooperados, ao longo dessas décadas, a cooperativa enfrentou desafios como a falta de recursos e o preconceito com o trabalho manual. Mas também houve muitas conquistas, como o reconhecimento nacional com o prêmio Sebrae TOP 100 e a participação no G20 Social, o que fortaleceu ainda mais sua missão e visibilidade.
As oficinas regulares oferecidas pela cooperativa promovem o desenvolvimento de manualidades com foco em sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Hoje o grupo conta com 14 cooperados, entre artesãos e costureiros, e já passaram pelas oficinas e cursos mais de 100 pessoas.



Os produtos artesanais — como tapetes, bolsas, acessórios e peças decorativas — são feitos com reaproveitamento de materiais, promovendo uma economia circular e gerando impacto positivo na vida das artesãs. Além da geração de renda, o trabalho na cooperativa fortalece a autoestima e a autonomia dos envolvidos, criando uma rede de apoio.
Moda e arte
A cooperativa por muitas vezes se colocou à frente do seu tempo, inovando e investindo na utilização de fibras naturais e resíduos têxteis. O grupo realizou trabalhos para vários segmentos e se tornou referência na produção têxtil artesanal.
Os trabalhos ganharam destaque no campo das artes, tendo produzido cenários e figurinos especiais para televisão, teatro, cinema, escolas de samba e festas populares. Destacando os tecidos produzidos para: “A Muralha”, “Os Maias”, “O Clone”, “José do Egito” e muitas outras novelas e séries de destaque nacional.



No mundo da moda fizeram produções de tecidos personalizados para Cantão, Mr Cat, Maria Bonita, entre outras marcas. O grupo participou ainda de eventos como “São Paulo Fashion Week” e “Fashion Rio”, através da parceria com a Firjan e edições do Casa Cor, representando a produção artesanal do estado do Rio de Janeiro.
Regina Righi vê a Nós da Trama como um símbolo de resistência, criatividade e transformação. Seu papel atual é o de mentora, apoiando os novos passos da cooperativa e pensando em formas de expandir seu trabalho e transformação na vida das pessoas. Entre os planos futuros, estão o fortalecimento da sustentabilidade financeira, a ampliação das oficinas e o fortalecimento de parcerias com instituições públicas e privadas.
Ecofibras
O grupo realiza diversos trabalhos sociais e ambientais. Um deles já com 15 anos de atuação: o projeto ECOFIBRAS, em parceria com a Águas de Juturnaíba, realiza oficinas com foco no desenvolvimento das manualidades baseada nos princípios de educação ambiental, inclusão e empreendedorismo através da tecelagem manual com aproveitamento da fibra do Papiro/Sombrinha Chinesa, destinada a estudantes da rede estadual de ensino de Araruama no CIEP 148.






O projeto abrange toda a comunidade escolar da unidade do CIEP, atendendo todos os alunos ao longo do ano. As equipes das oficinas têm um diálogo constante com a equipe pedagógica da escola, com quem realizam atividades com temas sobre meio ambiente, consciência negra, entre outros.
Como legado, Regina deseja que a cooperativa seja lembrada como uma ponte entre tradição e inovação, entre o fazer com as mãos e o construir com o coração. Sua mensagem à sociedade é clara: investir em educação, arte e colaboração é investir em um futuro mais justo, solidário e sustentável.
“Nossa missão é preservar e difundir a técnica ancestral da tecelagem, promover o acesso de jovens de baixa renda e pessoas portadoras transtornos cognitivos comportamentais ao universo da tecelagem e do artesanato ambiental, unindo tradição e inovação para tecer novos futuros, para todas e todos e para o planeta”, finalizou Regina Righi.
Por Fernanda Guterres Santana
Fotos: Fernanda Santana e arquivo Nós da Trama
Vídeo: Luigi do Valle