Egiptólogo Fábio Frizzo de Araruama participa de pesquisa à tumba de nobre no Egito

Araruama tem produzido diversos talentos ao longo dos anos. O professor e doutor em História Antiga no Departamento de História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro Fábio Frizzo, 37 anos, é um deles.

No último ano ele foi convidado a participar de um projeto de escavação, restauração e pesquisa à tumba de um nobre da corte faraônica que viveu na segunda metade do século XV antes de Cristo chamado Amenmose.  A tumba está localizada no que é conhecido como “vale dos nobres”. Nesse mesmo período os faraós eram enterrados numa região próxima, conhecida como “vale dos reis”.

O projeto foi desenvolvido pela professora Andrea Zingarelli, egiptóloga da Universidade Nacional de La Plata da Argentina, professora essa que foi uma das suas orientadoras no doutorado.

O Projeto Amenmose é uma missão argentina de trabalho composta por arqueólogas, egiptólogos(as), restauradoras e outros profissionais. No caso, eu sou o único membro não argentino do projeto.

Pesquisa à tumba de Amenmose traz surpresas

 A pesquisa foi realizada à tumba (TT 318, TT para “Tumba Tebana”, que é a nomenclatura tradicional de catálogo). “Ela não era desconhecida, mas nunca foi estudada ou publicada. Então havia várias informações soltas e desencontradas, coletadas nos primeiros estágios da pesquisa bibliográfica em arquivos e bibliotecas na Inglaterra e nos EUA antes de irmos a campo. ”, disse Frizzo.

   A primeira etapa do trabalho de campo, portanto, foi de reconhecimento do monumento e suas condições atuais. Quando chegamos ao local para trabalhar, não havia nem a certeza de que conseguiríamos ter acesso à tumba. As tumbas deste tipo são cavadas na pedra de uma montanha, mas tradicionalmente contam com portas, sendo a entrada bastante simples. No caso desta tumba específica, a porta de entrada está soterrada. Então o acesso se faz por meio de um buraco na parede de outra tumba. Não sabíamos o tamanho do buraco, se seria possível passar etc.

Pesquisas como essa que datam de períodos antes de Cristo são muito difíceis de serem feitas porque não há registros sobre o assunto dado à antiguidade do objeto. “Foi feito um levantamento em bibliotecas de centros especializados de pesquisa na própria cidade de Luxor (como a Biblioteca mantida pela Universidade de Chicago); um levantamento de história oral sobre os usos do monumento nos últimos séculos (já que essa região onde ele está foi, até recentemente, ocupada por um bairro habitacional, no qual os habitantes usavam as antigas tumbas como depósitos ou até moradias); um levantamento arqueológico, registrando e mapeando o sítio de maneira meticulosa para elaborar plantas e mapas detalhados; um levantamento das iconografias e inscrições que decoram as paredes do monumento; e um registro fotográfico detalhado de todo o monumento e seu entorno”, disse o egiptólogo Fábio Frizzo.

Fotografias e registros detalhados dos achados

Projeto de pesquisa prevê visitação turística

O projeto deve ser retomado no próximo ano já que foi interrompido por conta da COVID neste ano passado Os objetivos finais incluem a publicação completa e a restauração do monumento para que ele seja aberto à visitação turística, como várias outras tumbas do mesmo período. “Esse trabalho de restauração foi iniciado, com medidas emergenciais para conter a deterioração natural da estrutura e sua decoração”.

Pesquisas científicas importantes e sem nenhum incentivo governamental

O egiptólogo Fábio Frizzo lamenta a falta de incentivos públicos que financiem projetos como esse. “Não há nenhum incentivo governamental específico para este projeto. Ainda mais atualmente, num momento de destruição agressiva da estrutura de financiamento de pesquisa no país. No sentido mais geral sou funcionário da Universidade Federal do Triângulo Mineiro em regime de dedicação exclusiva, que inclui atividades de pesquisa. Todavia, não há financiamento específico, nem pela universidade, nem por meio de outros programas estatais ou privados. O financiamento para minha participação vem basicamente do esforço pessoal e familiar”.

Pesquisas futuras X Omissão do governo federal em relação à pandemia

   Integrante do Projeto Amenmose o dr. Fábio Frizzo segue fazendo atividades para além do trabalho de campo.

   Haverá uma nova missão em Luxor no início do próximo ano, mas eu não poderei participar por conta das incertezas relativas a viver num país omisso no controle da pandemia. Isso impossibilitou um planejamento de trabalho, porque não sabemos se brasileiros serão aceitos em outros países. Estou planejando retornar ao trabalho de campo no início de 2023. Ao mesmo tempo, continuo trabalhando em outros projetos de pesquisa relacionados ao Egito Antigo. Há alguns anos venho pesquisando o ensino de Egito Antigo nas escolas brasileiras, com o objetivo de pensar, em conjunto com professores do ensino fundamental, maneiras mais significativas de abordar o tema.

Pesquisa à tumba de Tutankhamon

  Frizzo está dando início à pesquisa da tumba de Tutankhamon. “Uma nova pesquisa está sendo feita sobre a recepção da descoberta da tumba de Tutankhamon na imprensa brasileira, já que no fim de 2022 cumpre-se um século dessa descoberta, que foi determinante para a criação de um interesse mundial pela cultura faraônica e pela presença dela no imaginário social”, finalizou.

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