Cadê a juventude feminina na política?

A população abaixo de 30 anos, de acordo com dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa 42,3% do total de brasileiros. Enquanto os cidadãos têm média de 34 anos, no Congresso Nacional, os 513 deputados eleitos em 2018, tinham 49.

Os dados da falta de participação da juventude na política vão além dos eleitos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em abril de 2021, apenas 1,86% dos filiados a partidos políticos tinham menos de 25 anos. As mulheres, embora maioria da população, ainda são 45,72% dos filiados.

Para 2022, o número de cidadãos de 16 a 17 anos que estão aptos a votar é o menor da história. O total de adolescentes que fizeram o título de eleitor caiu de 3,2 milhões em 1992 para 730 mil em janeiro deste ano. Para votar em outubro, eles devem providenciar o título até 4 de maio.

Em 2020, apenas uma mulher foi eleita vereadora em Macaé, cidade do Norte Fluminense com 261.501 moradores e 17 representantes no parlamento.

A advogada Izabella Vicente (REDE) é negra e jovem, tendo sido eleita aos 26 anos. Ao Portal Costa do Sol, a vereadora explicou os desafios de ser levada à sério no meio político.

“Eu já sofri ataques apenas por ser mulher e negra. Já ouvi de ‘vai lavar uma louça’ até que eu era ‘blogueirinha’ e ofensas ao meu cabelo, por exemplo. Por acreditar em uma política transparente, participativa, que envolva a cidade e as pessoas, principalmente prestando contas mensalmente sobre o trabalho realizado no nosso mandato, muitas vezes as pessoas confundem e dizem que estamos ‘fazendo campanha’, quando na verdade só não estão acostumados a esse fazer político. Mostrar para as pessoas o que fizemos, e perguntar: ‘Como pode ser melhor?’’, relatou.

A parlamentar contou também como encara o fato de ser a única mulher no parlamento.

“Eu faço o possível para encarar de frente, pautando o debate dos direitos das mulheres, e procurando mobilizar outras mulheres a fazerem parte da política. Por ser um ambiente até hoje dominado por homens, vejo que muitas mulheres não se sentem confortáveis em dar esse passo, seja para se colocar enquanto uma liderança política mesmo, seja para mobilizar outras mulheres a votarem em mulheres”, afirmou. 

“Diversas matérias mostram que quando há mais mulheres na política todo mundo ganha. Uma cidade que é segura para mulheres, é segura para todo mundo. Uma política municipal que tem mais mulheres fazendo parte é boa pra todo mundo porque cada uma dessas mulheres traz também sua visão de mundo, suas dores e suas experiências, tornando o ambiente mais plural como um todo”, comentou a jovem.

Na visão da vereadora, o caminho para conquistar um meio político mais representativo pode estar no incentivo e criação de meios de combate à violência contra mulheres e ao feminicídio. Além disso, ela destaca a luta por melhores condições de trabalho, mais capacitação para fortalecer o empreendedorismo feminino, a valorização do trabalho doméstico e renda básica para mulheres social e financeiramente vulneráveis.

“Ampliar a participação feminina, com todo o cenário que ainda vemos, é uma tarefa árdua que passa por compartilhar o que vivemos, convidar outras mulheres e incentivar a luta por causas e ideias. Com o incentivo cada vez maior às pautas que são suas necessidades, cada vez mais mulheres aceitarão o desafio de estar nos espaços políticos. Até porque, no fim das contas, são muitas variáveis que precisam melhorar, não apenas para as mulheres, mas para diminuir toda uma estrutura desigual que existe hoje em nossa sociedade”, opinou.

Por Luiz Felipe Rodrigues- Estagiário (Supervisão: Renata Castanho)

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com

Conteúdo não disponível para cópia