Como boa leitora não é de hoje que compartilho, aqui, os achados curiosos Araruamenses e seus personagens presentes nos livros do acervo do Centro de Memória Municipal Dr. Sylvio Lamas de Vasconcellos.
O personagem de hoje é o Senhor Elias Manoel Joaquim, que se autointitulou ‘O Rei do Urucum’, ingrediente muito comum no mercado. Ainda hoje fazemos molhos e quando precisa dar aquela cor, usamos o famoso coloral. Segundo o próprio Rei do Urucum:
“A principal finalidade do urucum é: colorau. Sabe o que é colorau? Aquele pozinho, fubá, que jogam ali e tal – colorir o arroz. A minha mulher, por exemplo, apanha um punhado, chega lá, bota no óleo fervente, o óleo extrai toda a cor do urucum. Quando desliga o Urucum fica pretinho, perdeu toda a cor. Ela tira aquele óleo, e quando vai fazer o arroz, pinga, ali, ai o arroz fica amarelinho, fica bonito né? Eu vendo, agora, para que é não me interessa. Comprou, pagou, levou, ué. Eu vou saber para quê! Mas um dia, quarta ou quinta vez que eu tinha vendido, fui lá levar um outro urucum. Cheguei lá, olhei: tinha um punhado de latas, tipo dessas de querosene. Eu olhei, tava escrito assim: pararaaaa… HOLANDA. Então a conclusão que tirei é que ele tirava aquilo para fazer produtos de beleza, pra mandar para Holanda. Esse negócio de batom, ruge, qualquer coisa assim. Vendia a um freguês de São Paulo, que se tornou amigo um grande amigo meu. Esse foi o homem para quem eu mais vendi. Uma vez vendi 100 toneladas – 2000 mil sacos de 50 quilos. Tinha outro homem no Rio, na Rua Buenos Aires, 89 – 4º andar. Ele era botânico, e era austríaco. Ericks Kropsh Araguari, o nome dele. Eu não sei se era um nome adaptado ao brasileiro. Ele exportava urucum pra Europa. Mas nunca perguntei a finalidade. E ele confiava muito em mim – porque esse produto tem uma coisa: deu sol, tem que secar. Se não tiver sol, bota ele, daqui a dois, três dias, ele tá mofado – aí estraga tudo. Eu apanhava o urucum, despejava, às vezes cem sacos, no terreiro, assim, examinava. Quando tava mofado, ficava branco; de longe a gente olhava, aí via, né? Então apanhava aquela parte branca, botava no sol para secar; depois apanhava, tava seco, jogava no urucum novo e virava pra fazer um tipo uniforme. Ganhei muito dinheiro. […]”
Esse trecho foi retirado do Livro Araruama: no tempo das histórias, publicação da Secretaria de Cultura em 1992, na parte de depoimentos de São Vicente, na página 187. Os contos araruamenses não acabam por aqui, tem muita curiosidade nesse livro, para quem quiser ler.
A leitura nos leva lugares fantásticos, onde é possível imaginarmos o passado, nos transporta para épocas em nossos avós viveram, e assim podemos comparar o passado com o presente. Também nos faz pensar, de como trabalhos e pesquisas acadêmicas sobre história oral como o livro citado interferem na autoestima das pessoas e como é importante para a identidade regional.
O Crédito da Imagem como sempre do ilustríssimo Clóvis Brasil, artista Araruamense, mega criativo, dá uma cara própria para o Rei dessa história.
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Aline Vecchi