Determinismo é um conceito filosófico que diz serem todos os fatos baseados em causas, ou seja, todo o acontecimento é regido pela determinação, seja de caráter natural ou sobrenatural.
O Brasil é um país em que mulheres compõe cerca de 52% da população, mas, no mercado de trabalho, ganha apenas 77% do que um homem recebe para fazer a mesma função.
Negros, que são 54% do contingente populacional, também são 78% dos mortos por arma de fogo no país e representam 2 em cada 3 presidiários.
Em relação às pessoas trans, o Brasil é líder: o que mais mata no mundo. Só em 2021, foram 140 assassinatos registrados dessa população.
As estatísticas são contrárias, mas podem nem sempre determinar como será a vida de alguém. É o caso de Tatiana Crispim, de 38 anos. Advogada, negra e mulher trans.
De São Pedro da Aldeia, Tatiana é a primeira mulher negra transsexual pós-graduada em Direito Militar do Brasil. Apesar do orgulho de ter chegado lá, Crispim alerta para a mensagem que isso traz.
“O racismo ainda não acabou, ser preto único é sinal que a educação não está se ampliando mesmo em 2022“, apontou ao Portal Costa do Sol.
A consciência de que poderia fazer mais através do Direito foi o que motivou Tatiana a escolher o curso.
“Não foi minha primeira alternativa, mas foi onde me encontrei e percebi que poderia lutar não só por mim, mas por muitas nessa sociedade”, disparou a advogada.
Tatiana se formou em 2006 e passou a atuar como advogada em 2015. De lá pra cá, houve mudanças para os grupos que ela representa, mas ainda falta, segundo ela.
“Avanços em legislação, temos alguns. O que falta são avanços da cultura e da forma de pensar o lugar dessas minorias na sociedade”, avaliou.
Na visão de Tatiana, muitas vezes, a força para se atingir lugares maiores, mesmo contra as adversidades e o preconceito, pode estar dentro de casa.
“Apoio familiar e inclusão na educação é a única forma de fazer desse mundo um lugar mais inclusivo e menos cruel”, contou.
Por fugir do padrão de homens brancos que representa a maior parte dos advogados do Brasil, Tatiana reforça que, todos os dias, a tarefa dela é se legitimar e provar que é competente enquanto profissional do direito.
Em 2020, ano em que a participação feminina e de pessoas LGBTQIA+ nas eleições bateu recordes, Tatiana Crispim foi candidata a vereadora em São Pedro da Aldeia. Porém, no município, de nove vereadores, apenas uma eleita foi mulher.
“[Falta] Honestidade partidária, os partidos nos colocam para preencher a cota e em alguns casos essa minoria acaba se elegendo, pois a sociedade a cada dia está mais cansada e desacreditada dos velhos políticos e suas dinastias”, analisou.
Na semana do Dia Internacional da Mulher, perguntamos à advogada se havia mais o que comemorar ou ao que lutar.
“O Brasil continua sendo o país que mais mata mulheres no mundo e isso não é motivo de comemoração. Nós ainda somos minoria em espaços de poder e na política”, respondeu.
Para o futuro, Tatiana está criando um projeto voltado para dar forças e respaldos para pais de filhos LGBTQIA+.
O que a advogada espera é algo simples, mas que carrega um peso potencializado, considerado o racismo, misoginia e transfobia no país: “se manter viva”.
“A violência me apavorava muito no Brasil”, concluiu.
Por Luiz Felipe Rodrigues, sob a supervisão de Renata Castanho.