A Região do Complexo Lagunar de Araruama – RJ, foi área de ocupação e de circulação de diferentes grupos indígenas. A grande quantidade de lagoas e lagunas, riachos, áreas de encostas, além das proximidades da Mata Atlântica, tomaram a região um ambiente propício ao estabelecimento de grupos horticultores e ceramistas, como os Tupinambá, que ocuparam a região há mais de 2.000 anos.
Tem relevo aplainado e ondulações formadas por processos erosivos relacionados com as flutuações do nível do oceano e a drenagem continental. Há testemunhos rochosos gnáissicos com altitudes superiores a 100 metros, como o Mirante da Paz de onde se pode ter um alcance de 360°, possibilitando uma visão panorâmica do litoral de Araruama, Saquarema, Arraial do Cabo, até as áreas interioranas de Morro Grande e São Vicente, lugares densamente ocupados, também, desde tempos pré-coloniais. Esses locais destacados devem ter sido utilizados como pontos estratégicos que permitiram um amplo domínio da região, seja para controle dos cardumes que entravam na lagoa, seja para o envio de sinais para os aliados ou para perceber a aproximação de inimigos.
Iniciando o texto de hoje com um trecho do artigo científico que uso como base, ‘Programa Funerário dos Tupinambá em Araruama – Sítio Bananeiras’ escrito pelas arqueólogas, Ângela Buarque, Claudia Rodrigues-Carvalho, e Elizabeth Christina da Silva. O artigo fala justamente de pesquisas realizadas em Araruama, com foco no enterramento, que é uma das principais características desse grupo, já que a cerâmica que é o artefato mais comum, e também servia para rituais e enterramento.
O Enterramento é estruturado com uma urna (que é a parte maior do conjunto, e pode conter um esqueleto dentro, é uma espécie de caixão), uma tampa, um ou mais potes ou tigelas pintadas. No artigo são mencionados cronistas do século XVI, que relatam o processo de enterramento, ou seja, quando se morria alguém, o corpo era colocado na posição de cócoras, os joelhos amarrados junto à barriga, e colocados em um pote que o caiba, junto com suas joias (colares e plumas), objetos pessoais, oferendas e por fim enterrados na oca onde vivia.
E para que serve saber sobre o enterramento tupinambá? Serve para conhecermos um pouco mais de nossos ancestrais, com análises de laboratório sobre os ossos e os dentes, é possível saber o que comiam, ou se tinham alguma doença e até mesmo do sexo e da causa de sua morte, as análises no interior das tigelas é possível saber o que se tinha ali dentro, e se eles também ofereciam algum agrado ao morto ou mesmo oferendas. As similaridades da sociedade hoje, não são mera coincidência.
A imagem é da Urna Funerária Tupinambá que faz parte do acervo do Centro de Memória Municipal Dr. Sylvio Lamas de Vasconcellos, além da sua imponência na Exposição Raízes como peça principal.