A gordofobia é a repulsa por corpos gordos e pessoas que estão acima do peso. Esse preconceito é muito mais grave do que parece, mas, no Brasil, a prática não é considerada um crime. Há anos o corpo magro é visto como o padrão estético mundial, excluindo a beleza de pessoas Plus Size. Portanto, até quando esse estereótipo vai assombrar a sociedade?
A psicóloga pós-graduada em Arteterapia e em Fitoterapia, Thiana Antunes, explica que o preconceito com pessoas obesas ganhou força quando a magreza foi supervalorizada, juntamente com o ápice das cirurgias plásticas e a indústria da moda. “Gerando o ideal de que ser gordo é uma doença que deve ser a todo custo curada com dietas surreais, cirurgias e qualquer tratamento que prometa resultados rápidos”, explica.
Thiana ainda esclarece que este bullying pode causar transtornos psicológicos. “É possível encontrar quadros de depressão, ansiedade e modulações de humor”, afirma a psicóloga.
André Abad, de 32 anos, já foi vítima deste preconceito. “Nossa, você é bem gordo, né!?”, esse foi um dos comentários ofensivos que André já recebeu por conta do seu corpo. Neste episódio, um colega de trabalho foi gordofóbico, mas em outras esferas da sua vida ele também sofreu essa agressão. Transporte público, através do motorista do ônibus, e dentro da própria família.
“Eu quero e vou fazer a diferença”
André tem depressão e ansiedade. Além do bullying por ser gordo, ele também sofre transfobia. Apesar disso, ele não deixa sua luz ser apagada. “Eu não sou representado na mídia, mas estou fazendo de tudo para ser representante na internet, principalmente no Instagram. E não só para as pessoas entenderem o que passa na vida de uma pessoa obesa, mas também de um transgênero lutando contra a depressão e principalmente a ansiedade”, relata.
Fui vítima de gordofobia e quero denunciar: como fazer?
Mesmo que gordofobia não seja crime no Brasil, a vítima pode denunciar como injúria, de acordo com a advogada formada pela Cândido Mendes, Nairine Papavaitsis. “Além disso, o ofendido poderá ser indenizado pelos danos extrapatrimoniais que sofreu. É importante guardar todas as provas possíveis, como “prints” de conversas ou obter testemunhas para corroborarem com as afirmações”, enfatiza.
Dentro do ambiente de trabalho, a denúncia também pode ser feita, através do Ministério do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho, anonimamente ou não. “Cabe ainda reclamação trabalhista para declarar a rescisão do contrato de trabalho, conhecida como ‘justa causa do empregador’, onde o funcionário recebe suas verbas rescisórias e dano moral ante o assédio moral severo que tenha sofrido”.
A advogada frisa que caso a pessoa vítima de gordofobia deseje denunciar, é importante que procure um profissional qualificado. “Tanto no aspecto cível ou trabalhista, recomenda-se que o ofendido procure um advogado especialista na área para tomar as medias cabíveis”.
Entenda quais termos são ofensivos!
Não, chamar uma pessoa de gorda, dependendo do contexto, não é pejorativo. Essa é a condição dela. Mas se você utiliza esse termo com o intuito de ofender esta pessoa, aí sim, você está sendo gordofóbico!
“Nossa, que rosto lindo você tem, poderia emagrecer!”. Por mais que pareça um comentário bobo, você está desrespeitando o espaço e o corpo daquela pessoa. Não faça esse tipo de elogio, porque essa fala, de elogio não tem nada.
“Você ficou linda (o) depois que emagreceu”. Magreza não é sinônimo de beleza, esqueça isso. A felicidade de ser quem você é importa muito mais do que qualquer outra coisa.
Ser gordo não tem absolutamente nenhuma relação com alimentação ruim, com uma pessoa sem saúde, ou alguém que não pode colocar um biquíni ou sunga e se sentir bem com isso. Se liberte deste padrão preconceituoso e gordofóbico. A beleza é muito mais do que isso.
Por Virgínia Carvalho, estagiária sob supervisão de Renata Castanho