Para o Dia das Mães, deste ano, o Portal Costa do Sol traz relatos sobre a “Maternidade Atípica”. O termo, ainda pouco discutido, tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade para as necessidades da mulher/mãe que cuida de crianças e adultos com deficiência. As mães atípicas se dedicam integralmente aos cuidados com os filhos e é fundamental uma grande rede de apoio para que elas, pois precisam também de cuidado.
Segundo a psicóloga Thiana Antunes a maternidade por si só já é um desafio e tanto. Na maternidade atípica há também os desafios de aprender sempre uma nova forma de lidar com o filho, a rotina cansativa de terapias e crises e o preconceito da sociedade. Segundo ela, em muitos casos famílias e amigos se afastam dessa mãe e seu filho. Dessa forma a mãe acaba perdendo uma possível rede de apoio.
“O autocuidado é importante para mantermos o equilíbrio do nosso corpo e da mente. Para termos qualidade de vida. A rotina cansativa da mãe atípica e a falta de apoio tornam tudo muito mais difícil. Podem gerar sintomas de depressão, ansiedade e estresse extremo. Além de possíveis problemas físicos de saúde. O que essas mães mais precisam é de saúde para conseguirem viver bem a maternidade. Por isso é importante nos unirmos como sociedade contra esse preconceito que muitas vezes isola essas famílias. As mães só precisam de acolhimento”, ressaltou a psicóloga que desenvolve projetos de cuidado para mães atípicas.
Para falar mais sobre o assunto, o Portal Costa do Sol, conversou com duas mães atípicas, moradoras de Araruama:
Dani Leal de 42 anos, mãe do Lucas de 15 anos
“Sou Dani Leal, tenho 42 anos, funcionária pública e mãe do Lucas Leal, autista de 15 anos. Ser mãe atípica para mim é viver numa gangorra de emoções, vibrar com pequenas conquistas, aprender a ter empatia com o próximo, ter coragem para enfrentar os desafios e um único medo: E quando eu não estiver mais aqui, quem fará pelo meu filho tudo o que fiz?”
Cuida sozinha da criança ou possui uma rede de apoio?
Graças a Deus minha rede de apoio apesar de pequena é muito eficiente: meus pais sempre foram meu porto seguro nos cuidados, e hoje com o falecimento do meu pai ficou um pouco mais difícil.
Qual a importância da mãe que cuida de filhos com deficiência, também cuidar de si própria e receber cuidado e apoio da família e sociedade?
Nós mães de crianças com deficiência vivemos sob pressões psicológicas e físicas diariamente: lidar com a sociedade e buscar direitos muitas vezes causa uma sobrecarga emocional que atinge a toda saúde. Normalmente preocupam-se apenas com o deficiente e esquecem-se de cuidar também de quem cuida.
Quais cobranças ou preconceitos a mãe atípica sofre?
Parte dessa sobrecarga que vivemos provém da falta de informação e do cumprimento das leis que protegem as pessoas com deficiência, o que causa preconceito, cobrança e desrespeito, principalmente. Como por exemplo: o direito à prioridade nos atendimentos sejam eles públicos ou privados – eu como mãe de autista já passei constrangimento ao estar na fila preferencial com meu filho, já que o autismo “não tem cara”, fomos acusados de estarmos “furando fila”. Quando às cobranças, já fui acusada de não ter dado educação correta ao meu filho no momento em que ele estava tendo uma crise. São muitos problemas que enfrentamos. Mas um deles que dói todos os dias é a hipocrisia: nos chamam de guerreiras, dizem que somos especiais. Mas ninguém gostaria de trocar de lugar conosco, não é?
Quais mudanças a sociedade precisa para apoiar mais essas mães?
Para que este quadro vivido por nós mude, necessário se faz uma grande corrente de conscientização não só da sociedade como um todo, como aos governantes e as próprias famílias que ainda cometem erros por falta de apoio e respeito às leis do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Mas para além disso, políticas públicas voltadas à nós deveriam ser prioridade nos governos, pois não só se nasce deficiente como também podemos nos tornar deficientes à qualquer momento de nossas vidas!
Joany Talon de 36 anos, mãe do Dom de 2 anos e 8 meses
“Ser mãe atípica é ter a função de educar o filho com o máximo de autonomia possível, lutar todos os dias contra preconceitos e atitudes capacitistas, e não economizar forças e disposição para mostrar à sociedade que o mundo é de todos e para todos, e a responsabilidade de transformá-lo é de todos, não somente das famílias que possuem alguém com alguma deficiência.”
Cuida sozinha da criança ou possui uma rede de apoio?
Os cuidados diários são dos pais, mas tem os tios e avôs quando podem auxiliar.
Qual a importância da mãe que cuida de filhos com deficiência, também cuidar de si própria e receber cuidado e apoio da família e sociedade?
Os cuidados tanto da saúde física, como mental da mãe atípica são fundamentais para que ela possa prover, de maneira saudável, os cuidados do filho, afinal, a rotina de uma criança atípica é bem cheia e exige bastante comprometimento.
Quais cobranças ou preconceitos a mãe atípica sofre?
As cobranças e preconceitos são no sentido de que nós, mães atípicas, possuíssemos a habilidade de lidar com todas as situações pertinentes à condição do filho, sem considerar as emoções humanas que acometem todas as mães, de filhos com deficiência ou não. Os preconceitos são sempre os de agirem ou terem medo de agir, por redução da criança à deficiência que possui.
Quais mudanças a sociedade precisa para apoiar mais essas mães?
Principalmente a de se considerar responsável por criar um ambiente adaptado e digno para as pessoas com deficiência, e não, esperar que quem possui alguma limitação é que precise desenvolver maiores habilidades para sobreviver. Parando de julgar as atitudes das crianças e por mais que tenham dificuldade de lidar com os comportamentos atípicos delas, ao invés de julgar as mães, por nem sempre conseguirem controlar toda situação, oferecerem acolhimento.
Por Fernanda Guterres Santana
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As duas mães fazem parte do grupo Pais Eficientes de Araruama
Saiba mais:
https://www.instagram.com/paiseficientesdeararuama/
Thiana Antunes @psi.thianantunes é psicóloga clínica na @innhealthcenter