Em 2022 não é tão raro encontrar mulheres ocupando tatames em competições de artes marciais. Porém, o cenário era diferente há uma década. Mayara Bravo, de 32 anos, conhece bem essa história.
“Na época que eu comecei a treinar, já tinham mulheres que abriram as portas. Mas não era comum, por exemplo, todas as equipes terem mulheres treinando. Na minha equipe mesmo tinham quatro ou cinco na época que eu comecei”, contou a atleta.
Mayara começou a namorar o atual marido, Saulo Bravo, quando tinha 14 anos. Na época, ele já era faixa roxa de Jiu-Jitsu. Dois anos depois, o casal já esperava a primeira filha: Maria Luísa.
Desde criança, Maria começou a se interessar pela arte marcial praticada pelo pai. Aos 3 anos da menina, Saulo teve uma mudança de rotina e Mayara começou a levar a filha para treinar. Ali, nascia a paixão de Mayara pela luta.
A mãe começou a treinar para ajudar a filha. Com o passar dos anos, se dedicou à formação na luta, se graduou em Educação Física pela Universidade Veiga de Almeida e, em 2016, quando já era faixa roxa, montou sua primeira turma de Jiu-Jitsu feminino.
“Eu juntei um grupo de mães para começar a treinar. Nós éramos alunas da Bia Mesquita, que é 10x campeã mundial. Só que ela não podia mais dar aula, a turma se desfez e eu acabei tendo que treinar na turma mista”, disse Mayara sobre o início da trajetória.
“Hoje em dia, você chega na minha academia para treinar, você tem 20 mulheres no tatame treinando. A gente vem mudando esse quadro. É um mercado muito masculinizado, os homens são a maioria. Em alguns lugares, vão ter pouquíssimas mulheres treinando, mas temos ganhado muito espaço”, conclui Mayara.
Quando Mayara se tornou faixa preta, foi convidada para trabalhar em Dubai, onde ficou por um ano dando aula para crianças em um colégio e para mulheres em um clube. Hoje, ela tem a própria academia junto com o marido, a CTBravos, em Saquarema.
Mayara contou ao Portal Costa do Sol que nunca quis ser atleta competidora, mas afirmou que “faz parte do Jiu-Jitsu você ter todas as vivências”. A empresária já foi campeã do Rio Open de faixa marrom, campeã brasileira de faixa preta e campeã do Floripa Open de faixa roxa.
Nascida no Rio e moradora de Saquarema desde a infância, Mayara destaca os pontos positivos e negativos da prática esportiva na Região dos Lagos.
“Os positivos são que a gente tem qualidade de vida, que proporciona que a gente tenha tempo para treinar, não fique preso no trânsito, consiga chegar na academia depois do trabalho”, apontou a lutadora.
“Os pontos negativos é que não tem competições grandes aqui. A gente sempre chega mais cansado na competição, porque é tudo no Rio, nas competições internacionais, a gente tem um gasto muito grande. Mas, mesmo assim, acho que estamos bem aqui na região”, ponderou Mayara.
A professora contou que ela e o marido passam quase todos os fins de semana em competições dos alunos.
“Nós já viajamos para leva-los à todo o Brasil. Campeonato Brasileiro, Floripa Open, estadual, Sul-americano, e fora do Brasil também. Já fomos ao Pan-americano, World Pro – que é o mundial de Dubai -, vários eventos grandes”, relatou.
“Eu posso te afirmar que é mais tenso levar os alunos e filhos para lutar do que lutar. Porque é como se você fizesse 20, 30 lutas em um dia. Cada um que entra, você sente aquela adrenalina toda de novo. É um prazer muito grande acompanhá-los”, concluiu Mayara.
Os três filhos de Mayara, apesar da pouca idade, já se sagraram vencedores nas artes marciais. A mais velha, Maria Luísa, é 2x campeã pan-americana, na Califórnia, campeã do World Pro em Dubai, 7x campeã brasileira e, no último fim de semana, ganhou o Rio Summer, da confederação CBJJ.
O filho do meio, Saulo, é 3x campeão pan-americano, 3x campeão brasileiro, campeão do World Pro e do Grand Slam, em Dubai, e 2x campeão sul-americano.
O mais novo, Bento, está dando os primeiros passos no esporte, mas já ganhou todas as etapas da federação FJJ Rio no ano passado, campeão estadual. Ele começou a lutar nos primeiros anos, parou durante a Pandemia, mas já está de volta aos tatames.
“Retornamos e ele vem ganhando tudo. Esse ano, vai disputar o primeiro brasileiro dele, primeiro pan-americano kids”, afirmou a mamãe orgulhosa.
Sobre objetiva, Mayara é direta: “Formar meus filhos e meus alunos faixas pretas. Vê-los campeões mundiais. Ensinar para outras crianças tudo que eu aprendi, usar o esporte como uma ferramenta de educação para formar seres humanos do bem. Campeões no tatame e na vida”.