Bonecas Negras: resgate cultural e empoderamento em Armação dos Búzios

Há dez anos, um projeto nascido no bairro da Rasa, em Armação dos Búzios, começou a transformar vidas e resgatar a cultura local. A Associação Bonecas Negras, criada em 2015, surgiu com o objetivo de valorizar a população nativa da cidade, muitas vezes invisibilizada diante do glamour das praias e do turismo internacional. Hoje, o grupo é referência no estado do Rio de Janeiro e até internacionalmente, unindo arte, cultura e empreendedorismo.

A iniciativa partiu de mulheres como Luciana Passos, presidente da associação, e Wandelea Pereira, vice-presidente e quilombola da Rasa. Elas começaram ensinando a confecção de bonecas artesanais no Quilombo da Rasa, um dos dois quilombos de Búzios. O objetivo era criar produtos genuínos, feitos por mãos locais, que representassem a cultura afro-buziana. “A gente queria mostrar que Búzios não é só praias e natureza, mas também tem uma riqueza humana incrível”, explica Luciana.

Andréa Amélia, uma das integrantes do Bonecas Negras, desempenhou um papel fundamental ao liderar capacitações de costura para mulheres pescadoras, marisqueiras e quilombolas. Muitas delas nunca haviam tido contato com máquinas de costura industriais, mas, com paciência e dedicação, Andréa as guiou no processo de criação de peças como bolsas e necessaires. “Ver essas mulheres descobrindo sua capacidade e criatividade foi uma das experiências mais gratificantes”, comentou Andréa.

Ao longo dos anos, o projeto cresceu e se profissionalizou. Em 2018, a associação se legalizou com um CNPJ, o que permitiu parcerias importantes. Com isso, as bonecas ganharam escala e qualidade, e o grupo passou a participar de editais e feiras nacionais e internacionais. “Hoje, somos 30 mulheres, todas conscientes de que estamos fazendo cultura”, orgulha-se Luciana.

O impacto social do Bonecas Negras vai além da produção artesanal. O projeto empoderou mulheres quilombolas, pescadoras e marisqueiras, muitas das quais nunca haviam tido acesso a oportunidades profissionais. Wandelea Pereira, por exemplo, conta que sua vida mudou completamente após ingressar na associação. “Eu me vejo como uma mulher hoje. Antes, eu vivia dentro de quatro paredes, sem reconhecimento. Agora, entro em qualquer lugar de cabeça erguida”, relata.

Além das bonecas, o grupo também desenvolveu a Rota Cultural Afro-Buziana, que leva turistas a conhecerem a história e os costumes dos quilombolas e caiçaras da região. A rota inclui visitas ao mangue da Rasa e ao Barracão dos Pescadores, onde a pesca tradicional ainda é praticada. “Essa rota é uma forma de mostrar a verdadeira raiz de Búzios”, destacou Luciana.

Para 2025, as metas são ambiciosas: consolidar a venda online dos produtos, expandir os pontos de venda e, principalmente, adquirir uma sede própria. “Sonhamos em ter um espaço nosso, onde possamos continuar crescendo e fortalecendo nossa cultura”, diz Wandelea. Com uma década de história, o Bonecas Negras prova que é possível unir tradição, empreendedorismo e empoderamento, transformando vidas e resgatando a identidade de uma comunidade.

Por Luigi do Valle

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