Dessa vez venho apresentar outra referência importante sobre nosso Município, publicação da Secretaria Municipal de Cultura em 1992, a trilogia ARARUAMA, Panorama de uma Cidade, No tempo das Histórias, e No tempo das Mulheres. A trilogia recolhe informações gerais sobre o Município de Araruama e sua principal contribuição são os depoimentos orais de moradores antigos, projeto de João Luiz Domingues Barbosa e Ana Cláudia C. Viegas.
Lendo o livro me deparei com muitas menções ao automóvel Ford 29 que pertenceu a José Maria Castanho que “foi dado ao maior homem de Araruama […]. Veio de trem, foi dia de festa o dia em que o carro chegou […].” No depoimento do Sr. Manoel Saraiva Júnior, ele complementa dizendo que José Maria Castanho recebeu o carro de presente do Governo por ser muito amigo de Amaral Peixoto. Já no depoimento do Sr. Raymundo Gonçalves de Oliveira “Só tinha um automóvel em Araruama, que deram de presente a ele. Ele era um médico muito caridoso, muito bom, muito amigo do povo, [deram de presente](sic) um Fordeco a Ele. […] uma parte foi dos salineiros, que ele era médico deles, também, e reuniram lá, compraram um automóvel e deram.” O automóvel foi um sucesso na cidade, houve até uma festa.
Daí surge a pergunta: Quem foi José Maria Castanho? Português, nasceu em 1883, veio para Araruama em 1913, prático de farmácia, salineiro e político (Vereador da Câmara). Segundo Sylvio Lamas de Vasconcellos,
Privando da amizade de políticos de prestígio na esfera estadual e federal, através deles obteve inúmeros benefícios para a Cidade e o Município, dos quais foi, sem dúvida, um benfeitor. Foi também um dos fundadores do Lions Clube de Araruama e dedicado provedor da Casa de Caridade, onde realizou uma eficiente administração de seu hospital e de seu Pronto-socorro. À parte tudo isso, foi um modelo de dignidade e integridade pessoal. (VASCONCELLOS, 1998, p.280).
A admiração e gratidão pelo Sr. José Maria Castanho também está presente no depoimento do Sr. Raymundo Gonçalves de Oliveira,
Nosso médico aqui, antes de Dr. João era o Castanho, pai de Mário. Ele era Farmacêutico, mas era um sujeito formado, e curava muito bem. Eu, por exemplo, no tempo da espanhola, em 1918, tive uma pneumonia dupla, quem me curou foi ele. Aquelas pastilhas de quinino receitadas por ele. Não tinha médico, não tinha hospital, não tinha nada. A gente morria à míngua, sem saber de que morreu. Não tinha nem quem fizesse o atestado! (SECRETARIA, 1992, p.67)
O depoimento oral é um dos artifícios usados para que se resgate a história da Região ou Município, porém podem ter versões diferentes, o carro foi dado pelo governo ou foi presente dos salineiros? E muitas vezes as versões podem não ser exatamente o que aconteceu, por isso é necessário sempre ir em busca de informações e contextualizações.
Fica o mistério, e assim tentando desvendá-lo, fui em busca do tal Ford 29, e recorri à Memória Viva de Araruama, Renata Castanho, neta de José Maria Castanho, que me cedeu fotos de seu acervo pessoal com tal Ford 29 em questão, pude observar os pequenos detalhes, e verificar que era na verdade era um Ford T, identificado pela sua roda em madeira. Deixo vocês com a imagem do primeiro automóvel a circular em Araruama, o Ford T da Família Castanho.
@aline.vecchi.3